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domingo, 18 de outubro de 2009

André Forastieri - Jornalista

Galera..preciso reproduzir aqui o texto do blog do André Forastieri no site r7 do Jornal Correio do Povo de 15/10.
Espero que ele não me processe, mas senti essa necessidade por compartilhar do sentimento dele em gênero, número e grau essa semana!Segue abaixo, parabéns André pelas felizes colocações!

Lula e Juca Ferreira - Vale-Cultura_______________________

Correio do Povo
15 outubro 2009

O Vale-Cultura (e quanto a cultura vale)
Encontro defeito em qualquer coisa que qualquer governante faça. É cacoete, reflexo automático. Se o prefeito ajuda uma velhinha a atravessar a rua, já vejo segundas intenções. Sou do contra e não abro.
Mas como eu disse lá outro dia: com a idade, até estilingue profissional às vezes vê o charme de ser vidraça.
Pois então: com alguma vergonha, sou obrigado a reconhecer que esta semana estou com orgulho do Lula.
A primeira razão é a confusão lá em Honduras. O governo brasileiro foi muito criticado por isso e por aquilo.
Por deixar que o presidente deposto, Manuel Zelaya, transformasse a embaixada brasileira em quartel-general etc.
Por arriscar se queimar à toa. Por defender o Zelaya, que parece ser um sub-Hugo Chavez. E mais mil outras coisas. Nada disso importa.
O que importa é a defesa de um princípio fundamental: o maior país da América Latina, o Brasil, não vai permitir que haja mais golpe militar no continente.
Não importa se o presidente eleito é bom, ruim ou médio. Milico não vai mais ter vez e ponto final. Tolerância zero.
A postura do Brasil foi fundamental para que a comunidade internacional, a OEA e companhia fincassem o pé na defesa da democracia em Honduras.
Muito importante. Porque democracia é um sistema muito ruim, como dizia Winston Churchill, mas é menos pior que todos os outros que já experimentamos.
Agora, Churchill também dizia que o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor médio. No Brasil, dois minutos bastariam.
O que me leva à segunda razão porque hoje, bato palmas para o governo. Uns meses atrás, Lula lançou o projeto do Vale-Cultura. Ontem, a Câmara aprovou. Falta o Senado. Que deve aprovar.
O projeto de Lei cria um Vale-Cultura no valor de R$ 50,00 mensais para quem recebe até cinco salários mínimos. Uns 14 milhões de trabalhadores serão beneficiados. O que você não gastar em um mês, acumula para o mês seguinte.
Será um cartão magnético. É uma mistura de Bolsa Família com Vale Refeição. A grana terá que ser gasta necessariamente na compra de produtos ou eventos culturais – cinema, teatro, shows, livros, CDs, DVDs etc.
Tem lá vários detalhes que podem e devem ser debatidos e melhorados. Mas o princípio é excelente.
Vivemos no capitalismo e aqui a missão do dinheiro privado é se multiplicar. A missão do dinheiro público é beneficiar o público. Quase nada é tão benéfico quanto dinheiro no bolso.
Naturalmente, vai ter crítico descendo o malho. Esse povão burro, vai gastar tudo em CD do Victor & Leo, show de forró e livro do Augusto Cury.
Que seja. Qual o problema? Alguém vai me provar que o novo disco do Caetano Veloso é culturalmente mais importante do que o da banda Calypso?
Ou, em outras palavras: a função do produto cultural não é educar, engrandecer, iluminar. Se fizer tudo isso, ótimo, mas o valor do produto cultural está em entreter. E já não é pouca coisa.
É claro que o contato com a cultura areja o espírito e o pensamento. Fundamental, visto que os impérios do futuro são os impérios da mente – opa, tirei o dia para tirar a poeira do meu livro de citações de Churchill.
Eu acho muito melhor dar o dinheiro direto na mão do peão lá que esse monte de leis de incentivo que só incentivam a produção comercial direcionada à classe média alta. Que tem dinheiro próprio para ver os shows ruins que quiser.
Na esfera da cultura, dinheiro público deve ir:
a) diretamente para sustentar a produção de arte mais impopular, herética, experimental e estapafúrdia
b) para o bolso de quem mais precisa
Os números do Ministério da Cultura e do IBGE são assustadores. Li no jornal Metro de hoje:
- 86% dos brasileiros não vão ao cinema
- 1,8 é a média de livros lidos por ano
- 73% dos livros estão nas mãos de 16% da população
- 90% dos municípios do país não têm pelo menos um destes itens: cinema, teatro, museu ou espaços culturais multiuso.

Qualquer coisa que ajude a mudar isso tem meu apoio.
Essa grana é boa? É pouca. É um formigueiro perto do Everest de dinheiro que o Brasil joga no ralo em coisas que absolutamente não beneficiam os brasileiros.
Nos próximos anos vai piorar – é trem-bala, Copa, Olimpíada, submarino nuclear. Mas amanhã volto ao meu desprezo habitual por todas as iniciativas de políticos profissionais.
Hoje dou folga para meu ceticismo. Fiquei orgulhoso da postura do Brasil em Honduras. Fiquei feliz de viver em um país que terá o Vale-Cultura.

André Forastieri
Jornalista


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